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Campanhas contra a violência letal chamam atenção para números alarmantes no país

Por: Samara Melo (samara@observatoriodefavelas.org.br)

São mais de 61 mil mortes violentas intencionais no país e as maiores vítimas foram jovens negros, Em municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes, a taxa de assassinatos de jovens chegou a 3,65 por mil adolescentes segundo informações do anuário do Índice de Homicídios na Adolescência (IHA) de 2014.

No Brasil, sete em cada dez pessoas assassinadas são negras. Na faixa etária de 15 a 29 anos, são cinco vidas perdidas para a violência a cada duas horas. De 2005 a 2015, enquanto a taxa de homicídios por 100 mil habitantes teve queda de 12% para os não-negros, entre os negros houve aumento de 18,2%.

Conforme dados do IHA, recentemente divulgados pelo UNICEF, Observatório de Favelas, Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente e LAV, de cada mil adolescentes brasileiros, quatro vão ser assassinados antes de completar 19 anos. Se nada for feito, serão 43 mil brasileiros entre os 12 e os 18 anos mortos de 2015 a 2021, três vezes mais negros do que brancos. Entre os jovens, de 15 a 29, nos próximos 23 minutos, uma vida negra será perdida e um futuro cancelado.

De acordo com pesquisa realizada pela Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) e pelo Senado Federal, 56% da população brasileira concorda com a afirmação de que “a morte violenta de um jovem negro choca menos a sociedade do que a morte de um jovem branco”. O dado revela o grau de indiferença com que os brasileiros têm encarado um problema que deveria ser de todos.
Diante desse contexto, organizações estão se mobilizando criando campanhas e alianças para divulgar, sensibilizar e mobilizar a população diante dessa alarmante realidade.

A “Juventude Marcada para Viver” campanha de conclusão de curso do projeto ESPOCC do Observatório de Favelas teve como principal meta contribuir para a redução dos homicídios de jovens negros no Brasil. As informações usadas pela campanha mostravam que cerca de 30 mil jovens eram mortos por ano no país e as principais vítimas dos homicídios eram jovens negros.

Succo Mc, protagonista da campanha Juventude Marcada Para Viver, comenta que o trabalho na campanha buscava informar e mobilizar a população negra no que pode ser chamado de uma rede de proteção ao racismo implícito nesses dados.

A “Jovem Negro Vivo”, da Anistia Internacional visa mobilizar a sociedade e romper com a indiferença, preconceito e estereótipos negativos associados a jovens negros e aos territórios das favelas e periferias.
“A Anistia Internacional tem realizado uma série de ações para trazer mais pessoas para o debate e enfrentamento da questão do altíssimo número de homicídios de jovens no Brasil, atuando junto a grupos de juventude, movimento negro, da cultura, periferias, organizações de direitos humanos locais, universidades e até mesmo com seções da Anistia Internacional fora do Brasil” pontua Marcelle Decothé, responsável pelas ações de mobilização junto a juventude da campanha.

A “Vidas Negras”, da ONU, chama atenção para o fato de que cada perda é um prejuízo para o conjunto da sociedade e sensibiliza para os impactos do racismo na restrição da cidadania de pessoas negras, influenciando atores estratégicos na produção e apoio de ações de enfrentamento da discriminação e violência.
“O Brasil é um dos 193 países comprometidos com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Um dos principais compromissos dessa nova agenda é não deixar ninguém para trás em relação às metas de desenvolvimento sustentável, incluindo jovens negros. Com a campanha Vidas Negras, a ONU convida brasileiras e brasileiros a se engajarem e promoverem ações que garantam o futuro de jovens negros”, comenta o coordenador residente da ONU, Niky Fabiancic.

A América Latina, com apenas 8% da população mundial, concentra a maior quantidade de homicídios no mundo: 38% dos assassinatos no planeta ocorrem na região. O problema se concentra ainda mais em sete países: Brasil, Colômbia, El Salvador, Honduras, Guatemala, México e Venezuela. Cerca de 34% dos homicídios do mundo ocorrem nesses lugares. Buscando reverter esse quadro, várias organizações da região criaram a aliança latino-americana Instinto de Vida com a proposta de reduzir a violência letal à metade em 10 anos nesses países.
Raquel Willadino, diretora do Observatório de Favelas, que integra a Campanha Instinto de Vida pontua a necessidade de priorização do tema na agenda pública.

Para ela, “O enfrentamento do racismo é central. Para alcançar mudanças efetivas é preciso avançar na desnaturalização dos homicídios da juventude negra e na construção de políticas públicas que tenham a valorização da vida como um princípio fundamental. Raquel enfatiza a importância da construção de um plano nacional com foco na redução dos homicídios e a importância de fortalecer iniciativas que afirmam a vida e a potência dessa juventude e das periferias como forma de combater esses homicídios e reduzir o números apontados pelo anuário.

A urgência em tratar desse assunto é grande, o doutor em comunicação, Thiago Ansel, atenta para o tempo e onde podemos ter de fato um impacto positivo, porque o tempo das transformações sociais pode ser um e o das mensagens midiáticas outro. “Creio que essas campanhas têm, sim, um impacto positivo junto aos gestores públicos, operadores de direito e legisladores mais sensíveis”.

O especialista ressalta o desdobramento cultural no sentido de deixar disponível uma discursividade sobre segurança pública principalmente que leva em conta a história do Brasil, que simplesmente teve gente que era dona de gente durante séculos. “Assim, penso que as campanhas também têm um impacto importante para o público em geral no sentido de dizer “olha, racismo é quando sete entre dez pessoas assassinadas são negras”. Essa distribuição desigual da violência – e da capacidade da sociedade se enlutar – não existe do nada, não começou hoje.”
As lutas raciais não iniciaram agora e é preciso dar continuidade principalmente na atual conjuntura política do país. Mobilização social e políticas públicas são apostas para a mudança desse cenário.

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