Por: Piê Garcia (pie@observatoriodefavelas.org.br)
Fotos: Elisângela Leite / Redes de Desenvolvimento da Maré
No dia 24 de julho, o Centro de Artes da Maré recebeu o 1º Seminário de Empreendedores da Maré. O evento reuniu diversos comerciantes e moradores que participaram da apresentação dos dados econômicos levantados pelo Censo de Empreendimentos Econômicos realizado pela Redes de Desenvolvimento da Maré e o Observatório de Favelas.
O estudo revelou que dos 2.953 empreendimentos analisados, 66% são voltados para o comércio, 33,3% para serviços e 0,7% para indústria. No comércio, 660 estabelecimentos (22,4%) são bares, 307 (10,4%) são salões de beleza, 216 (7,3%) vendem roupas e 138 (4,7%) são mercados.
Durante a apresentação, Eliana Souza Silva, diretora da Redes, falou sobre os desdobramentos da pesquisa. O Censo de Empreendimentos é o terceiro produto do Censo Maré. O primeiro foi a atualização da base cartográfica, o segundo produto foi o Guia de Ruas, já com duas edições – 2012 e 2014. O próximo projeto é o Censo Domiciliar, que já está em fase final de tratamento e análise dos dados.
Eliana ressaltou o protagonismo dos moradores na execução do Censo. “Os pesquisadores foram alunos do pré vestibular, pessoas que moram aqui, que conhecem a realidade.” Para ela, é importante que o resultado do trabalho esteja facilmente disponível para a população mareense. Também falou sobre a ideia de se criar um plano integrado e sustentável de desenvolvimento local e que o resultado desses trabalhos implica diretamente na construção de políticas públicas para a região. Outro ponto citado pela diretora, é a importância do diálogo e da organização dos empreendedores.
O geógrafo Dalcio Marinho Gonçalves, coordenador do Censo, apresentou os dados mais relevantes, entre os quais, o número de pessoas empregadas, o perfil dos empreendedores, a origem dos fornecedores e os instrumentos predominantes de pagamento. Os resultados da pesquisa evidenciaram que o pouco aparato financeiro e tecnológico limita a economia da Maré. “Para o desenvolvimento da economia local, a reivindicação mais frequente entre os empreendedores é a instalação de agências bancárias, mas o uso da informática na gestão do negócio também representa uma lacuna a ser preenchida”, pontuou o diretor do Observatório de Favelas.
Além dos resultados do Censo, a publicação traz, ainda, um catálogo com 2.469 comércios ou serviços existentes na Maré. Durante a sua apresentação, Gonçalves fez questão de agradecer a cada pesquisador presente, “esse documento foi construído de forma coletiva. A colaboração de cada entrevistado e dos pesquisadores no processo foi fundamental”, finalizou.
Os empreendedores, de maneira geral, solicitaram formação e auxílio para se organizarem. Edson Moreira, vendedor de produtos de limpeza, na Vila do Pinheiros, afirmou que com a aproximação dos comerciantes seria mais fácil conseguir fomentos e financiamentos para todos. Ele também exaltou a garra dos trabalhadores, que mesmo sem muita informação e poucos recursos conseguem manter os seus negócios.
Jaqueline Soares, especialista em tranças afro, contou que já foi gente do mundo todo no salão dela e que agora, vai ficar mais fácil de serem encontrados e divulgados.
Josilene Ribeiro acredita que o mapeamento é, sobretudo, importante para autoestima dos moradores.
Hélio Euclides, jornalista da Redes, falou da emoção de seu pai ao saber que a sua venda estava no guia e comentou sobre a burocracia que era para ser inserido nas Páginas Amarelas.
Para fechar, Fabiana Ramos, representante do Sebrae, se colocou a disposição para orientar os empreendedores e já marcaram a data do dia 21 de agosto para a primeira reunião e palestra sobre associoativismo para os comerciantes.
O livro é dividido em quatro partes: apresentação, metodologia de pesquisa, resultados e empreendimentos. A última é feita em páginas amarelas, como as antigas listas publicitárias que tinham este nome.
Para ler a publicação, clique aqui.