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Confissões de um aprendiz de serendipe, ou dez dias imerso no Global Innovation Gathering

Por Gilberto Vieira (gilberto@observatoriodefavelas.org.br)

Sou gestor de projetos no Observatório de Favelas do Rio de Janeiro. Desde 2012, venho trabalhando com conceitos que giram em torno da cultura, da arte e da tecnologia aplicados a jovens moradores de territórios populares. O programa base que represento é o Solos Culturais, de metodologias de formação em produção cultural e pesquisa em cultura. O Solos se desdobra no Guia Cultural de Favelas, uma plataforma de visualização de práticas culturais em favelas. Produzido por jovens o mapa conta com conteúdo multimídia e uma pesquisa em seis favelas com levantamentos de coletivos, espaços e indivíduos que agem sobre a produção cultural dos espaços. O projeto está em fase de difusão e espera já se tornar uma plataforma colaborativa e independente. Ele é um dos insumos para novos debates sobre tecnologia e engajamento juvenil na instituição.

Durante dez dias estive em Berlim, representando o Observatório num encontro entre inovadores de países em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina – O Gobal Innovation Gathering – GIG.

28 de abril

Parto de São Paulo com destino a Berlim e conexão rápida em Munique. A princípio vou ao encontro de Gabriela Agustini, parceira desde os tempos de Casa da Cultura Digital, que no Rio de Janeiro, fundou o OLABI – laboratório de experimentação, ensino e aprendizagem em torno de tecnologias e coisas. Gabi me convidou para compor um grupo de brasileiros no Global Innovation Gathering, um encontro entre inovadores do Sul Global para discutir e trocar experiências. Eu descobriria que o GIG seria muito mais.

29 de abril

Chego exausto e com uma mala gigantesca que guarda pertences e encomendas de amigos brasileiros em Berlim. Descanso durante algumas horas e acordo animado para começar minha jornada. A noite agora (na primavera) começa tarde na cidade e o tempo parece estendido. Sem internet ou um mapinha que me salve, vou caminhando, me perdendo e reconhecendo a Berlim que conheci no escuro do inverno de 2014, para meu primeiro encontro marcado.

Gabi, Georgia Nicolau e Daniela Silva já estão na cidade e me aguardam para uma taça de vinho num dos mil bares de Kreuzberg. Georgia participaria do encontro com olhos de governo brasileiro, onde representa uma diretoria na Secretaria de Políticas Culturais do MINC. Dani viria pela Open Society Foundations, organização que dá suporte a centenas de projetos inovadores no mundo, inclusive o Guia Cultural de Favelas. Fomos trocando impressões sobre os últimos dois GIGs. Surgido em 2013 no festival re:publica, o encontro tem potência global e articula uma série de iniciativas que vão colaborando (mais ou menos) durante o resto do ano. Gabi, Geo e Dani haviam participado das outras edições do encontro e me ajudaram a reconhecer personagens e trajetórias.

Gabriela Agustini, Daniela Silva e Georgia Nicolau. Parcerias e conexões.


30 de abril

Trabalhamos todo o dia num espaço inovador de co-work no centro da cidade, o Betahaus. Entre cafés e skypes, ao som de hits modernos, dezenas de pessoas se reúnem para dividir espaço de trabalho e conexão à internet. No Brasil, onde o valor da conexão ainda é medido em altos reais, os modelos como esse ainda não têm explodido. Ainda.

1 de maio

O dia dos trabalhadores em Berlim reúne milhares de pessoas nas ruas de Kreuzberg. Jovens de todas os estilos e movimentos possíveis se juntam em festa na cidade para reivindicar direitos, aclamar ideologias ou beber e dançar. Flanei, sozinho entre a multidão e tive uma boa sensação sobre a energia de uma Berlim liberal em contrapartida às vozes conservadoras da Alemanha.

Como que simbolicamente, nesse dia chegaram os mais de 50 participantes do GIG. Ficaríamos juntos durante os próximos sete dias, compartilhando centenas de histórias, narrativas, visões de mundo. No hall do hotel, já à noite, trabalhando com as expectativas dos próximos dias conheci alguns parceiros brasileiros, como a colaboradora do Barco Hacker, Kamila Brito,  e outros belos seres que me dariam pequenas amostras da diversidade que encontrei.

02 de maio

No caminho para o espaço onde aconteceria o primeiro dia de atividade, conheço Martha Chumo, ou Njeri Chelimo – um nickname-nomedeguerra potente das redes (eu descobriria depois). Queniana, Njeri fundou em 2013, aos 19 anos, uma escola de desenvolvimento de sistemas em Nairobi. Com financiamento coletivo, a jovem construiu sua escola e hoje empodera jovens mulheres do Quênia a partir da linguagem da programação, compreendendo e criando softwares e novos pensamentos sobre o mundo. Contei a ela sobre algumas jovens brasileiras que começam a entender a potência da programação aplicadas a disputas de representação como é o caso das parceiras Silvana Bahia e Yasmin Thayná. Njeri seria a minha primeira descoberta africana. Viriam outras tantas que me mostrariam a África que nunca conheci nos livros.

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Martha Chumo ou Njeri Chelimo <3

Os dois primeiros dias doGIG foram em formato de Barcamp na ZKU – Centro de Arte e urbanismo. Esse espaço incrível era uma estação de trem abandonada que hoje serve de hub para residentes que pensam arte e urbanismo pelo mundo. Por coincidência, ou não, encontrei um tanto de brasileiros aqui.

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O prédio da ZKU era uma estação de trem no século passado.

Bytheway, um barcamp é um encontro onde temas são discutidos em grupos em dois ou três tempos. Assim todo mundo conversa sobre assuntos diferentes. A maioria das discussões giraram em torno de assuntos como sustentabilidade, formas de colaboração locais e globais, desenvolvimento de novos hubs e formas de compartilhar experiências. Entre os temas inovadores estava a discussão sobre políticas para o desenvolvimento, encabeçada pelos gestores brasileiros, Georgia Nicolau e Ricardo Ruiz, que integram nosso grupo. Uma das interessantes saídas da discussão foi a proposta de criação de uma comissão que pense lobby governamental para questões estratégicas em tecnologia.

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“Como valorizar ações locais?”

Em outro grupo, discutimos formas alternativas de pensar encontros locais de inovadores, deixando conceitos fechados de lado e nos abrindo para nossas próprias comunidades e práticas. Desafios como superar desigualdades, estruturas precárias e o tempo escasso para o desenvolvimento de redes concretas foram apontados. Trabalhar concretamente com os conceitos de abertura e compartilhamento ainda parecemos maiores valores para transformar sociedades, independentemente da internet.

Falei um tanto sobre o Galpão Bela Maré e os desafios institucionais, locais e globais pelos quais passo diariamente para manter um espaço que se pretende efetivamente aberto à comunidade. Da minha cabeça em ebulição surgiram novas ideias de desenvolvimento de um laboratório na favela onde os inputs sejam materiais e as consequências tecnológicas. Novidades em breve aqui: solosculturais.org.br

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Debate sobre sustentabilidade e modelos de negócio.

03 de maio

Mais um dia de barcamp na ZKU. Nesse domingo ensolarado, especialmente, dividimos o espaço com uma feira local de ações comunitárias que iam de trocas de roupas usadas a performances de arte e urbanismo.

Depois do dia intenso de conversas, pude ter noção um pouco mais clara dos meus novos companheiros de viajem. O GIG estava formado por coordenadores de hubs – a maioria ligados ao AfriLabs, makers, inovadores ligados à tecnologia, entusiastas, hackers, incubadoras e financiadores e representantes de instituições públicas e privadas da Europa e da África.

Segundo Jay Fajardo, o parceiro Filipino, o GIG funciona como “um encontro anual de mentes brilhantes que buscam criar sinergias entre si, mantendo intercâmbio permanente através de projetos comuns ao longo do ano. Os seus membros estão comprometidos com os valores da curiosidade constante, da colaboração aberta e de impactos significativos.”

Hoje fazemos todos, parte de um grupo de discussão no Facebook, além de um grupo ativo no Whatsapp.

04 de maio

Passamos o dia visitando hubs espalhados por Berlin. Transportados num ônibus, como numa dessas excursões que fazemos nos tempos de escola, cada parada era uma surpresa e cada novo papo, nas curtas viagens entre um local e outro, uma oportunidade de construir amizades e parcerias. Numa dessas conheci Muhammad Radwan, do Egito. Participante ativo das manifestações da primavera árabe no começo da década, quando foi preso pela ditadura síria, Muhammad coordena hoje o icecairo, um hub de inovação tecnológica verde. O icecairo incentiva jovens a resolver desafios ambientais e sociais, transformando-os em negócios verdes. O cara se considera um player de mídia social e já passou por mais de 50 países difundindo ideias transformadoras sobre inovação e tecnologia.

Visitamos quatro espaços completamente distintos de trabalho. Entre hubs mais ou menos descolados, com ideias mais ou menos inovadoras de colaboração e modelos de negócio pude perceber a variedade de possibilidades de sustentabilidade de espaços de trabalho e inovação. Senti o quanto estamos preparados, no Brasil, para a construção de espaços de co-working que funcionem como grandes agregadores de marcas e financiadores, onde startups têm chance de conectarem-se efetivamente com mercados possíveis através de um método integrado de gestão, como é o caso da Factory Berlin.

Noutro extremo, a Stattbad Berlin é um hub de cultura contemporânea que pensa tecnologia através. Para mim, e cada vez mais, isso quer dizer que lidar com o contemporâneo é entender as intersecções entre as potencialidades humanas. Arte, mídia, arquitetura, sociedade se linkam através de projetos que lidam com o fazer e pensar tecnológico a partir de softwares e hardwares que vão sendo reciclados e/ou concebidos através da chave da inovação. É um novo jeito de pensar o mundo. Naturalmente esse tipo de espaço esbarra nas questões sustentáveis onde planos de negócio precisam ser desenhados com perspectivas a longo prazo. Naturalmente, não posso deixar de identificar-me ainda mais com esse tipo de iniciativa. Mas até onde vai a inovação se não pesarmos em planos concretos de sustentabilidade e negócio?

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A Stattbad era uma casa de banhos no século passado. Hoje as piscinas servem como espaço de experimentação.

Visitamos ainda a ThinkFarm Berlin, um espaço de co-working que me lembrou muito os tempos da Casa da Cultura Digital, da Casa Nuvem ou as discussões que me embrenho para tentar entender lugares horizontais de gestão, produção e convívio. <3

05 de maio

Re:publica, dia 1

O festival é bem maior do que imaginei. A programação diária vai de 10h às 21h em 14 espaços simultâneos. Durante os três dias de evento participaram cerca de 7 mil pessoas entre estudantes, makers, pesquisadores, gestores, empresários, financiadores, artistas e nerds de todo tipo. Mais de 60 países estão representados. São cerca de 125 atividades por dia, entre palestras, debates e oficinas. O evento acontece no Station Berlin um complexo de dezenas de espaços para conferências e tem como tema “Findin Europe”. As hipérboles não são gratuitas.

O GIG tem um hub no meio pavilhão central, onde nos encontramos durante os dias de festival. Durante esse tempo me dediquei a conhecer os processos os contextos dos companheiros que ainda não havia tido oportunidade de conversar e as superstars do meu mundo tech. Assisti cerca de sete talks/debates por dia. Foram mais de 20 horas de escuta atenta às experiências diversas. Relato aqui alguns momentos marcantes.

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O hub do GIG no re:publica.

Depois da fala inspiradora de abertura do evento, de Ethan Zuckerman, talvez uma das personalidades mais importantes da internet no mundo, estive focado em realidades que pudessem afetar minha prática mais cotidianamente. Destaque para 2 momentos:

A mesa composta por três jornalistas quenianas (o Quênia foi minha grande descoberta africana!!) que através de blogs ativos transformam a mídia e a representação no leste africano. Njeri Wangari, Brenda Wambui e Ruth Aine falaram sobre o crescimento da distribuição de internet na África e de como as mídias sociais tornaram-se importantes na vida cotidiana dos povos africanos quando substituíram as mídias tradicionais.

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Mídia, internet e transformação no Quênia.

Por fim, participei do encontro entre Brasil, Venezuela, Ruanda e Egito em torno da serendipidade – ou a arte de descobrir o inesperado. Talvez esse encontro tenha me tocado especialmente pelo tema tão corrente à minha vivência até aqui. Os serendipes são viajantes que, ao longo do caminho, fazem descobertas felizes sem nenhuma relação com seu objetivo original. Segundo Bolívar Torres, trata-se de um estado de espírito, um poder de percepção aberto à experiência, à curiosidade, ao acaso e à imaginação. De forma mais livre, é possível apreender o mundo e se relacionar com o conhecimento. É como se eu tivesse encontrado uma vazão para tantas descobertas que tenho feito aqui. =)

Os componentes do talk falaram de impactos em suas comunidades a partir de modelos diversos. Alfredo Billembourg disparou uma série de dados sobre como o UrbanThinkTank reconhece o modelo rizomático de construções de favelas como potências urbanas e ativa modelos sustentáveis de pensar esses espaços no mundo, sem descaracterizá-los. Ricardo Ruiz (talvez um serendipe nato com quem tive intensos debates sobre a vida durante a jornada GIG), trouxe suas atividades no Recife que extrapolam limites territoriais e desembocam no inovador modelo de LABCEUS do Ministério da Cultura do Brasil. Jon Stever, de Ruanda, soube falar sobre o que poucos falam – modelos abertos e inovadores dependem da valorização do outro, da diversidade do qual são feitos os ecossistemas humanos. Parece assim o modelodo The Office.

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Ricardo, Alfredo, Adam Molyneux-Berry (do Egito) e Jon.

Como eu haveria de fazer, terminei o dia numa batalha de passinhos de dança, misturando funk e hiphop com o jovem Ulrich Sossou, de Benin. Dançar é aprender o mundo.

06 de maio

Re:publica, dia 2

Destaque para a fala de Markos Lemma, que em Addis, na Etiópia, fundou a iceaddis – o primeiro espaço de co-working e inovação do país. Markos apresentou a estratégia inovadora para facilitar o acesso à educação primária em áreas remotas da Etiópia através de tablets e jogos interativos. Apesar das matrículas de crianças no ensino primário ter triplicado nos últimos 17 anos, o país ainda passa por uma onda de analfabetismo que ultrapassa os 50% das crianças. Reconhecer novas formas de aprendizagem é um dos desafios do espaço de Markos em Addis onde uma força jovem tem pensado novos modelos de desenvolvimento.

Noutra sessão, cinco inovadores de diferentes cantos do mundo (todos participantes do GIG), falaram sobre a cena dos espaços de inovação de seus territórios, inseridos em diferentes ambientes políticos e econômicos. Ahmed Maawy, do Quênia, super jovem e engajado em uma séria de grupos de discussão pelo mundo, falou sobre a ascensão de iniciativas inovadoras na África Subsariana, onde ele próprio vem desenvolvendo a SwahiliBox – um espaço de encontro e negócios em torno de tecnologias para transformação social em Mombasa, no Quênia. Falou também a brasiliense Marina Suassuna, representante da Rede Fab Labs no evento, uma das fundadoras do bsbfablab. Marina falou sobre o desafio de transformar clientes em fazedores e jovens em cidadão mais conscientes de seus poderes de transformação.

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Marina, Ahmed e ainda Kudzai Mubawa, do Zimbabwe e Saad Chinoy, de Singapura.

07 de maio

Re:publica, dia 3

O dia mais intenso do festival foi o último. Sem chances de resumir ainda mais os encontros e falas, aqui vão alguns personagens que talvez me deixem marcado por muito tempo.

Hakim George

A primeira mesa do dia tinha o curioso título: Nerds with blue helmets? Inovação digital e manutenção da paz. Naturalmente, me interessei pela sessão e estive durante as falas, com os conflitos inerentes às favelas do Rio. No Complexo do Alemão e na Maré, as ações policiais e do tráfico de drogas têm gerado mortes, medo crescente e um sentimento unânime, entre a população, de que estamos em guerra.

As falas examinaram como mídias digitais podem apoiar a manutenção da paz em momentos de pós-conflito e aumentar as estratégias para promover o desenvolvimento de comunidades, capacitando vítimas de conflitos a fortalecer processos de construção da paz. Nunca houve tantos capacetes azuis (os soldados das forças de manutenção de paz das Nações Unidas) na África. No entanto, ainda são milhares de vítimas, desabrigados e migrantes nos territórios de conflito entre forças políticas. Como pensar ações inovadoras e digitais nesses contextos?

A fala mais substancial veio de Hakim George, do Sudão do Sul. Hakim é ativista de mídias sociais e jornalista freelancer de uma série de agência de notícias internacionais. Ele viaja constantemente às zonas de conflito no Sudão do Sul a fim de documentar ataques e violação de direitos, assim como potencializar redes de mídias alternativas entre jovens. Hakim é fundador da maior rede de jovens sul sudaneses do país – um grupo no facebook que responde pelos direitos civis de um país em guerra geopolítica. O Sudão do Sul foi separado do Sudão ainda em 2011. O mais novo país do mundo hoje é refém de uma luta entre duas forças políticas que minam possibilidades de crescimento econômico e cultural. A guerra civil continua.

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Hakim e sua fala de paz.

Kenya girls

A segunda sessão do dia é com três mulheres fenomenais, que  juntas, apresentaram “10 coisas que a Europa pode aprender com o Quênia”. Martha Chumo, Mugheti Gitau e Sheila Birgenderam apresentaram lições bem dadas a uma Europa em busca de si mesma que parece começar a entender a potência real do Sul. Com soluções inovadoras cotidianas, as meninas superpoderosas do Quênia mostraram que a juventude africana vem trabalhando ativamente no modo como olhar tecnologia e inovação no continente. Para olhar as dez coisas, assista a fala das quenianas aqui.

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Sheila, Martha e Mugheti.

Zigmunt Bauman

Ter a oportunidade de assistir ao vivo uma fala de Bauman, foi super-especial. Algumas de suas obras foram decisivas na minha formação e agora começam a incidir sobre minha prática de forma substancial. O último livro do sociólogo, Vigilância Líquida, dá conta da sociedade da informação no contemporâneo e sua relação com consumo, moral, cultura, política. Naturalmente a vigilância é uma dimensão central da modernidade. Mas a modernidade não é fixa. Segundo Bauman, na modernidade líquida as formas sociais se desmancham mais depressa que a velocidade com que se criam novas formas. É tempo de rapidez, de obsolescências programadas para durar pouco. Será que isso se aplica à vigilância? A arquitetura das tecnologias eletrônicas pelas quais o poder se afirma nas mutáveis e móveis organizações atuais torna a arquitetura de paredes e janelas amplamente redundante. E ela permite formas de controle que apresentam diferentes faces, que não têm uma conexão óbvia com o aprisionamento e, além disso, compartilham as características da flexibilidade e da diversão encontradas no entretenimento e no consumo. Definitivamente não estamos mais sós.

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Bauman e a vigilância líquida.

08 de maio

Quando vivemos intensamente, quando trocamos ideias, sentidos, sensações, então também nos cansamos. Mas é cansaço feliz, desses de ficar deitado, com dores de cabeça e um sorriso no rosto. Nesse dia, ainda armamos um churrasco na parte leste dessa Berlin maluca e que culturalmente tenta se entender depois das décadas de separação geopolítica. As despedidas foram dolorosas, como se tivéssemos feito amigos para a vida. Entre cigarros, trocas de contatos e promessas de parcerias efetivas, fui deixando o GIG e inventando na minha cabeça uma nova história do mundo. Os sentidos políticos e culturais ficam mais reais. O sentido global que agora assumimos, assim, com mais facilidade, também. Bauman disse que estamos cada vez menos sós. Que isso é potente – para o bem e para o mau. Que essas redes que vamos conformando nos dêem mais força crítica, política, estética.

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De afeto também é feita a inovação.

O #‎GIG15 – Global Innovation Gathering 2015 foi a descoberta de uma África inovadora, crítica, controversa, potente, frágil, volátil e em franco desenvolvimento. Que eu possa levar os parceiros que fiz e as ideias que trocamos para o meu mundo restrito (e ao mesmo tempo tão abrangente). Que eu consiga olhar para a favela e para a juventude com quem eu tenho trabalhado (e amado e sentido), para um lugar ainda mais complexo. Que a tecnologia passe a fazer parte das nossas vidas, menos como ferramentas de resolução de problemas, mas mais como um modo de ser.

Os próximos passos vão sendo traçados num caminho mais esburacado, porque novo. O Observatório de Favelas prepara um terreno fértil que é o da cena maker – realidade tão intrínseca ao nosso jeito de fazer mas que ainda não tem o espaço que deveria. É mais uma disputa pelo imaginário da favela, da cidade, do Brasil.

Que as gambiarras que genuinamente inventamos e que as incursões que fazemos na internet infinita se tornem um modelo potente de pensar empoderamento, visibilidade, política, cultura, arte. De baixo pra cima, como temos feito.

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