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“Os mototáxis foram criados por trabalhadores. Cada vez mais não tem ninguém que briga por nós”

Mototáxis lideram a preferência de 53,1% de moradores da Maré
Créditos foto: FRANCISCO VALDEAN)

Crédito foto: Francisco Valdean

Por Gabriela Anastácia (gabriela@observatoriodefavelas.org.br)

Andar pelas periferias do Rio de Janeiro é um exercício e tanto de paciência e disposição. É um tal de gente pra lá, gente prá cá, pedestres caminhando na faixa – isso quando há faixa -, carros e suas buzinas, animais desfilando pelo meio fio, crianças correndo, comércio rolando solto. Nesse fuzuê todo lá vem o homem da moto, de capacete, com seu run run e levando na garupa mais um passageiro. Atravessando beco e vielas, subindo e descendo como grandes desbravadores.

Diante de um cenário de 4,8 milhões de desempregados no país, segundo dados do IBGE, cada dia mais os pontos de mototaxistas estão se proliferando pelas cidades. Em sua maioria por aglomerados de homens, pais de famílias ou jovens em busca de mais uma oportunidade de trabalho e renda.

Essa é a realidade do empreendedor Márcio Alexandre de Souza, 45 anos, casado e pai de quatro filhos. Márcio é cria da Nova Holanda e foi pioneiro na implementação dos pontos de mototáxi na região, ainda em 2016, e chegou a ter 153 colaboradores até decidir ressignificar seus serviços com a articulação de entrega de pedidos nas áreas que os aplicativos de lanches não atendem, as consideradas áreas de riscos.

“Eu era gerente de um posto de gasolina e ficava observando os pontos de mototáxis. Observei onde falhavam e pensei, por que não tentar? Fui atrás do primeiro investidor. Consegui patrocínio de um restaurante na região que me entregou 23 coletes personalizados, encontrei um bom ponto, coloquei wi-fi, telefone e comecei a panfletar com ajuda da minha esposa e dois filhos. Quando vi o número de colaboradores e clientes só aumentava”, explica. “Hoje eu sou sócio de uma loja de peças para motos na Avenida Brasil e estou fechando parcerias com restaurantes para entrega de pedidos em locais que eles não atendem normalmente”.

Durante a primeira mostra sobre mobilidade no Complexo da Maré, de 2017, a Redes da Maré trouxe uma visão bem completa que colabora para responder o crescimento dos pontos de mototáxis não só no local. O estudo mostra que para 82,1% dos locais acreditam que existem dificuldades e/ou obstáculos para sua locomoção. E 62,4% dos moradores utilizam transporte alternativo, como van, kombi ou mototáxi. Sendo o mototáxi líder na preferência de 53,1% dos entrevistados.

No último ano a Secretaria Municipal de Transportes publicou no Diário Oficial um decreto que determina o pré-cadastramento dos mototaxistas no Rio de Janeiro. A medida visa obter uma licença provisória para circulação pela cidade.

Para o empreendedor Márcio Alexandre ainda existe falta de representatividade para categoria. “Os mototáxis foram criados por trabalhadores. Cada vez mais não tem ninguém que briga por nós. Quando vem aqui na favela é só época de eleição, os políticos vêm firmes. Acabou as eleições eles somem”, lamenta.

No segundo semestre de 2019 o eixo de Políticas Urbanas do Observatório de Favelas publicará o mapeamento do trabalho de mototaxistas, com recorte na Maré, através do projeto Território Inventivo. O estudo consiste em um um conjunto de conceitos, pesquisa e propostas urbanas para o conjunto de favelas da Maré, a partir de metodologias inovadoras, visando a construção de políticas urbanas tendo como eixo central a cultura e a educação, na perspectiva do paradigma das potências das favelas. Fiquem ligados!

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