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Uma experiência de sabores com “mulheres-marés”

Por: Isabela Souza (isabela@observatoriodefavelas.org.br)

Foto de capa: Elisângela Leite/Redes da Maré

Entre fevereiro e junho de 2014, fiz parte da turma de formação em gastronomia do projeto Maré de Sabores (que oferece uma formação em gastronomia e também em gênero e cidadania para mulheres moradoras da Maré). Meu objetivo? Escrever uma dissertação de mestrado sobre dizeres-cidade dessas mulheres. De maneira geral, eu gostaria de, através da convivência com o grupo, me aproximar do significado do termo “cidade” para moradoras da Maré.
Optei por não realizar questionários que me levassem a supostas respostas. Minha intenção era mesmo aproveitar o ambiente de aprendizado e convivência que o projeto viabilizava para tentar perceber através de sutilezas, olhares, falas despretensiosas, gestos, preferências culinárias e alimentícias, entre outras trocas, como o termo “cidade” era significado por esse grupo específico, que contava com moradoras de muitas das chamadas favelas da Maré.
“Favela” é palavra feminina. FAVELA foi, e ainda é, tratada por muitos estudiosos e realizadores da cidade contemporânea como contrário, como não-CIDADE. Sendo não-CIDADE, FAVELA passa a, muitas vezes, dispensar definições. Como se não-CIDADE, no sentido de uma ordem contrária à suposta ordem a partir da qual CIDADE é pensada e planejada, fosse um adjetivo que bastasse. Paralelamente, a disputa no âmbito dos gêneros avança de modo similar, na medida em que MULHER é frequentemente, naturalizada como simplesmente a negação de HOMEM. Como se ser MULHER fosse simples e naturalmente não ser HOMEM e, partindo daí, todas as análises, de alguma forma, acabam se reduzindo a isso.
Há mais entre ambas as comparações. Não há como fugir do debate que se encontra na distância entre os termos “favela” e “cidade” e também entre “mulher” e “homem”. Na pesquisa, coloquei-me o desafio de buscar trabalhar com a riqueza presente na multiplicidade de formas de dizer, pensar e elaborar “cidades”, “favelas”, “mulheres” e “homens”. Não me conformei, então, com uma compreensão desses termos que trate “mulher” e “favela” como naturais opostos de “homem” e “cidade”, respectivamente.
“Cidade”, “favela” e “mulher” são palavras significadas a partir de seus usos. Nesse sentido, não há verdades absolutas que digam ou representem essas categorias: elas podem ter seus sentidos ampliados, multiplicados, rasurados e foi esse o meu interesse no trabalho que realizei.
Na cozinha do Maré de Sabores e nos outros espaços que o projeto me proporcionou, emocionei-me e me percebi envolvida com mulheres lindas, plenas em desejos, vontades de intervir e que significavam o termo “cidade” de múltiplas formas, mas há aspectos que sobressaem em seus modos de dizer e eu os reuni em quatro eixos mais gerais: o primeiro diz respeito ao que resumi como “cuidados com o núcleo familiar e trabalhos domésticos”; o segundo eixo que percebi como central está ancorado em práticas e ou compromissos religiosos; o terceiro eixo identificado como estilingue de significações diz respeito ao trabalho remunerado enquanto dispositivo de ampliação de territorialidades; e o quarto e último eixo mais geral de minha sistematização está ancorado na dimensão da afetividade.
Esta experiência resultou num trabalho escrito apresentado ao Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional – IPPUR/ UFRJ no formato de uma dissertação de mestrado em fevereiro de 2015, intitulada “e errar e deslizar e flanar sobre discursos-cidade de mulheres da MARÉ e”. Procurei escrevê-lo integralmente num formato mais leve do que estou acostumada a perceber em produções ligadas à universidade. Nesse trabalho, investi minhas emoções e meus desejos e espero, de verdade, ter contemplado minhas interlocutoras e seus modos de dizer.
Para ler integralmente o material, sugiro busca na biblioteca do referido instituto. Será um prazer dividi-lo.

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