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“A publicidade não precisa imbecilizar” – Uma visita de Olivieiro Toscani ao Observatório de Favelas

Por: Camille Rodrigues (camille@observatoriodefavelas.org.br)

Foto de capa: Davi Marcos / Observatório de favelas

Os alunos da Escola Popular de Comunicação Crítica (ESPOCC) e os fotógrafos do Imagens do Povo receberam na tarde desta terça-feira (23/09), no Observatório de Favelas, uma visita especial: Olivieiro Toscani. Conhecido como revolucionário da publicidade e do foto-Jornalismo, Toscani, quebrou tabus e lançou campanhas inovadoras. Segundo ele, “a publicidade não precisa imbecilizar as pessoas.” Suas imagens falam sobre doenças físicas e mentais, guerras, poluição, sexo, religião, política. Sempre com temas impactantes, humor e senso-crítico, foge das formas tradicionais da propaganda.

Na abertura do encontro, Dante Gastaldoni, fotógrafo e um dos fundadores do projeto Imagens do Povo, apresentou algumas das obras do convidado, e em um bate-papo descontraído contou curiosidades como o primeiro registro fotográfico do Toscani, que foi aos 6 anos, quando seu pai, FedeleToscani, que também era fotógrafo, o presenteou com uma câmera.

Uma das curiosidades mais marcantes e surpreendente contadas por Dante, foi que aos 14 anos, Toscani, fez a foto que foi capa do Corrieri della Serra, sobre a “foto de Raquel Mussolini, viúva de Benito Mussolini, ditador fascista que levou a Itália à guerra ao lado da Alemanha, foi morto em 1945 e cujos restos mortais foram resgatados em 1957. Com uma câmera Leica emprestada pelo pai FedeleToscani, fotógrafo daquele jornal.” Ao revelar as fotos, seu pai decide que a foto que iria para imprensa seria a de seu filho e não a dele.

Aplaudido de pé, Olivieiro Toscani foi recebido carinhosamente pelos jovens, moradores, fotógrafos e admiradores, na Maré. O fotógrafo teve dificuldade para conectar os cabos de Ipad e logo soltou “Tecnologia de Merda!”, descontraindo o nervosismo e ansiedade de todos os admiradores que ali estavam.

Durante a apresentação, o italiano mostrou seu potfólio, nele algumas de suas imagens, para as revistas Benetton, ELLE, Vogue, entre outras, a Colors, sua própria revista que possui uma das melhores diagramações do século XX. Contou sobre as campanhas que lançou com suas imagens, como “Quem ama Jesus segue”, com o Jesus Jeans, campanhas contra o racismo e AIDS para Benetton. Falou um pouco de seu novo projeto, “Razza Umana” no qual viaja para diferentes lugares e fotografa o cotidiano de diferentes pessoas, com suas expressões e cultura.

Em seu documentário “Wart”, uma mistura de Arte e Guerra, faz uma reflexão sobre o que pode ser encontrado/admirado na tragédia. Para ele, “quando a fotografia é nonsense, é uma obra de arte”. “Ser fotógrafo é ter uma visão de mundo, não precisa ter grande produção política, mas ter uma posição na vida. Se você olhar a arte ela reflete a condição humana!” E complementou: “Uma fotografia é muito mais que uma pintura, a fotografia conta a verdadeira história do ser-humano.” Para concluir, Toscani provocou: “se houvesse fotografia na época dos evangelhos, os evangelhos seriam bem diferentes. Eu queria ver as fotos dos milagres. Eu queria ver as fotos do que os europeus fizeram com os índios. Certamente não haveria tantos monumentos para eles.”

Depois das apresentações, foi a vez do público intervir. Os jovens foram ao microfone, fazer perguntas, demonstrar o carinho e admiração que tinham pelo revolucionário da fotografia, que por sua vez adorou, e esclareceu perfeitamente suas dúvidas. E quando questionado sobre o que sentia quando uma fotografia sua era censurada, logo respondeu: “Nada! Toda censura se prova como um equívoco com o passar do tempo.”

Para Davi Marcos, formado pela ESPOCC, integrante da agência Imagens do Povo, hoje fotógrafo institucional do OF, a visita de Toscani fez o público entender  mais sobre o que se faz em publicidade e ter uma visão de mundo menos deturpada. “É o que Toscani faz, desmascara muita coisa na publicidade, usando a própria publicidade, que é o mais importante. O maior contingente dele é isso, criar debates, Toscani é um grande investigador, ele vem levantar  questionamentos sobre a publicidade afirmativa e questionadora, que é o que é feito na ESPOCC.”

Washigton Santana, 18 anos, aluno da ESPOCC, falou sobre a experiência “Eu senti como se os meus olhos fossem abertos. Se eu visse as fotos antes, eu diria: Ah! Muito bonito (e só)! Mas agora eu tenho verdadeiramente uma visão crítica da fotografia. Quando ele mostrou o (projeto) “Raça Humana” ele falou das diferenças, do que é o mundo e o mundo não tem só uma verdade, você ja começa a ver os conceitos de fotografia que nós aprendemos aqui também. É muita coisa, que antes eu não tinha e a partir da ESPOCC esse pensamento, essa visão crítica está se construindo e a minha visão sobre os trabalhos dele é que ele tem uma visão, um pouco da ESPOCC.  Não existe só o certo, a gente tem que questionar se é certo ou errado, não tem o certo.”

Para finalizar, Olivieiro Toscani foi para as ruas da Maré, “parar o trânsito”, e dessa vez, o fotógrafo não foi ele. Toscani se rendeu às lentes de fotógrafos e se uniu aos jovens da ESPOCC.

toscani língua
Janine Magalhães / Diálogos

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