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Cenas DELAS

O Observatório de Favelas, através do Programa de Direito à Vida e Segurança Pública, realizou em 2021, a 2º edição da chamada “Cenas DELAS”, voltada ao fomento de trabalhos artísticos produzidos por mulheres (cis e transgênero). O objetivo foi premiar cinco fotografias que tivessem como foco uma das temáticas centrais do Programa de Direito à Vida e Segurança Pública: a violência (letal e não letal) contra mulheres. Desse modo, a segunda edição da iniciativa “Cenas DELAS” se propôs a visibilizar produções de linguagens fotográficas que priorizam a sensibilização em torno do tema da violência de gênero, da letalidade feminina e da afirmação do direito à vida das mulheres na agenda pública, a partir da interface com diversos marcadores sociais como gênero e sexualidade, raça, classe social e território.
 

Premiadas

Maria Antônia Queiroz tem 20 anos, potiguar de Natal, mulher cis lésbica e comunista. Sua relação com a arte, especificamente com a fotografia, vem, de certa forma, de família. Sobrinha de Jussara Queiroz, cineasta potiguar formada em cinema pela UFF passou a se interessar pelo audiovisual juntamente com o irmão, numa tentativa de deixar viva a memória de tia Jussara. Estudará Arquitetura e Urbanismo no próximo período da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e o que mais a encanta na fotografia é registrar a relação política das pessoas com a cidade. Acredita que seu processo de reconhecimento d enquanto artista e fotógrafa começou em maio deste ano, quando seu irmão comprou uma câmera e ela começou a fotografar com entusiasmo e colocar as imagens no mundo.

Natasha Roxy é uma mulher trans preta fotógrafa e mochileira. Nascida na zona oeste do Rio de Janeiro.
sempre teve o sonho de viajar o mundo e trabalhar com audiovisual unindo os dois sonhos criou o projeto de vida Trans Nômade onde relata sua vida viajando e andarilhando por diversos países e cidades. Trans Nômade também é um filme (documentário) com a Direção de Rossana Fraga.

Lais Reverte é geóloga capixaba e estudante do audiovisual, atualmente moradora da zona norte do Rio de Janeiro e que entrou no mundo da produção de cinema e fotografia com o objetivo de trazer percepções mais sensíveis e afetuosas sobre corpos pretos como o dela. Sua linguagem documental busca reconstruir a imagem de pessoas pretas em constante narrativas do personagem guerreiro para a possibilidade de ser o que quiser ser, além de se ver como um importante signo de afeto no espaço que vive.

Mayara Donaria tem 25 anos, fotógrafa, negra e defensora dos direitos humanos, nascida e criada no Parque União, uma das Favelas da Maré, no Rio de Janeiro. Estudou na Escola Popular de Comunicação Crítica (ESPOCC), em 2012, e desde então acumulou quase uma década de experiência em fotojornalismo documentando favelas, protestos, lideranças políticas e movimentos sociais. Faz parte da AMARÉVÊ, um coletivo de mulheres do Parque União, que querem contar um pouco mais das histórias desse territorio tão rico,por meio de suas próprias vozes e perspectivas. Atualmente cursa graduação em Relações Internacionais e trabalha em tempo integral na comunicação do Instituto Marielle Franco, ajudando a divulgar e ampliar o legado de Marielle.

Ana Carla de Souza tem 19 anos e há 6 anos se envolveu com a fotografia. Foi por meio da fotografia que encontrou um espaço no qual tinha liberdade para se expressar. Nunca fez nenhum curso técnico voltado especificamente a área, apenas alguns cursos online ligados a edição de imagem. Tudo que aprendeu foi no cotidiano vivendo a fotografia. Hoje em dia é fotógrafa na ONG Na Ponta dos Pés, localizada no morro do Adeus, comunidade onde mora e tem grandes inspirações cotidianas para minhas fotografias.

Trabalhos

Cotidiano Periférico

O registro acima nos traz a reflexão do dia a dia da juventude artística periférica, que traz sua arte de maneira leve, forte e impactante. Com o olhar delicado e único da fotógrafa e um olhar da potência e resistência feminina, mostraremos como a favela tem suas potências e como estamos mudando o mundo através da lente. Imagem feita a partir de uma gravação sobre a força feminina, potência e resistência de bailarinas periféricas.

Casa da mãe

A fotografia apresentada dialoga com a proposta da chamada por apresentar a violência do Estado contra a mulher pobre. Lidamos com a realidade violenta da sociedade de classes como se fosse algo imutável e inerente à vida, fazendo com que o fato das pessoas não terem onde morar pareça algo banal e normal, mas não é. Deixar pessoas ao léu, sem terem um espaço físico com o mínimo de estrutura para viver dignamente, é extremamente violento, ainda mais enquanto os mais ricos colecionam imóveis que ficam abandonados sem nenhuma função social, apenas servindo à especulação imobiliária. O fato da fotografia ter sido tirada numa ocupação urbana em frente ao barraco de Edvânia, mulher preta, pobre, nordestina, mãe e sem teto fala muito sobre a história do Brasil desde a colonização, uma história de violência e abandono das mulheres negras que não ficou no passado, pelo contrário, é completamente atual

Trans Nômade A viagem da minha vida

Na foto Natasha Roxy está em um bar na Vila Mariana em São Paulo e recém chegou ao Brasil, depois de um ano no Uruguai, tomou uma cerveja com Camila Caggiano. E ao ir ao banheiro se deparou com duas portas de entrada MACHO e FÊMEA qual delas entrar? A violência de gênero está aí a todo tempo a nos atacar!

Revolta, Justiça e Amor

Nesse dia, 9 de junho de 2021, Mayara Donaria estava fotografando o ato contra a morte da jovem negra, Kathlen, de apenas 24 anos, que na época era a sua idade. Ela foi baleada no Lins, enquanto estava grávida e bem perto de casa. Nos últimos 5 anos, 15 grávidas foram baleadas, e Kathlen foi uma delas. Durante o ato, Mayara pediu para fotografar essa mulher que se chama Silvana, que estava grávida de 5 meses, e também é moradora do Complexo do Lins. A imagem dela ali marcou muito Mayara pois ela estava no ato junto com vários moradores pedindo por paz. E a palavra “Paz” estava escrita em sua barriga. Para a fotógrafa ficou muito nítido que ela estava ali, porque ela não queria ser a próxima vítima dessa violência que assola o nosso território e atinge nossos corpos, principalmente corpos de pessoas como Kathlen, Mayara e o de Silvana, todas mulheres negras que experimentam uma violência territorial e racial todos os dias.

Flores Negras

Se é clichê usar flores em editoriais com corpos de mulheres, não podemos dizer o mesmo sobre mulheres negras mais velhas. Constantemente a imagem de senhoras com mais de 50 anos de pele preta são retratados na mídia como símbolo de guerreiras, suporte e superação, e não lhes dão a possibilidade de ser imagem de sensibilidade e leveza, desumanizando-as constantemente e alimentando um contexto violento de morte do intelecto e emocional desses corpos. Esse projeto editorial-fotográfico surge como resgate e subversão da lógica racista que alimenta a violenta formulação da imagem da mulher preta mais velha.

Equipe

Realização
Programa de Direito à Vida e Segurança Pública

Coordenação Geral

Raquel Willadino Braga

Coordenação Executiva

Thais Gomes da Silva

Pesquisadoras

Heloisa Melino

Isabele dos Anjos

Natália Viana

Assessoria

Francisco Valdean

Jean Carlos Azuos

Thais Ayomidé

Comunicação

Coordenação de Comunicação   
Priscila Rodrigues 

Assessoria de Imprensa
Renata Oliveira

Social Mídia
Isabella Rodrigues

Analista de Mídia
Bruna Rodrigues 

Designer
Marcella Pizzolato e Taiane Brito 

Repórter
Gabrielle Araujo

www.observatoriodefavelas.org.br

Classificação etária: Livre.

Créditos: Bailarinas e líder da ONG Na Ponta dos Pés

Classificação etária: Livre.

Créditos: Fotógrafa: Maria Antônia Queiroz
Edição: Maria Antônia Queiroz
Ano: 2021
Lugar: Natal, Rio Grande do Norte.
Resumo: Fotografia de Edvânia, moradora da ocupação urbana Valdete Guerra, na Zona Oeste de Natal.

Classificação etária: Livre.

Créditos: Foto: Camila Caggiano / Natasha Roxy

Classificação etária: Livre.

Créditos: Mayara Donaria
Agradeço a Silvana pelo registro.

Classificação etária: Livre.

Créditos: Lais Reverte