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COM AS LENTES NO COLETIVO SEGUE-SE ESCULPINDO OLHARES

Por Eduardo Alves* (edu@observatoriodefavelas.org.br)

O Coletivo, o Público, o Comum, a Democracia. Palavras tão repetidas, lidas e ouvidas, em tempos atuais. São dimensões apresentadas em múltiplas formas e contornos nas periferias. O espaço coletivo, nesse caso profundamente comunitário, em que as pessoas se reconhecem como sujeitos e constroem, conjuntamente, com suas diferenças, o grande sujeito das transformações, não existe no mundo atual. Seja a transformação da natureza para a mais profunda e integrada satisfação humana em seus variados aspectos, seja a transformação das singulares vidas, constituem objetivos fundamentais. Pode-se unificar tais ensinamentos com a pedagogia da convivência e apresentar, com inspiração, o paradigma da potência das periferias.

É possível conquistar um novo vetor no mundo no qual as periferias alcancem, hegemonicamente, o lugar de sujeitos para que as satisfações humanas, materiais e espirituais, fluam com intensidade nas pessoas. Esse grande mar de direitos, no qual os direitos de cada uma são fortalecedores dos direitos de todas as pessoas, realiza-se em posturas, estéticas, compreensões e ações, no presente. E nesse processo, três fatores são fundamentais: o acesso e a organização do conhecimento historicamente acumulado; a convivência com as diferenças; e a construção dos sujeitos no processo de individuação e na formação do sujeito coletivo.

Identificar com nitidez os limites e conquistar o caminho da dignidade para a criação de uma humanidade plena, mobiliza os olhares, razões e sentidos para posturas transformadoras que já ocorrem nos tempos atuais. Seja no campo das artes ou nas múltiplas centelhas de apresentação dos conhecimentos, os insumos existem. O papel de compor e apresentar o que já se materializa nas narrativas, em formatos de letras, imagens e vídeos, evidencia a importância dos encontros como expressão da formação de um grande coletivo de transformações fundamentais para vida.

O caminho para a dignidade humana, na condição mais plena que se possa alcançar, coloca para todas as pessoas o desafio da convivência com as diferenças. Uma convivência que possibilita condições de apoios mútuos de superação das diversas desigualdades existentes que predominam no mundo atual. E, desta forma, pode-se construir, em múltiplas escalas de tempo e espaço, a importância do viver. Viver em nome da vida e da sabedoria que, na coletividade, pode cerzir a maior potência de criação.

A lamparina já está acesa e guia todo o processo; já brilha em diversificados tons nas periferias. Contribuir, com as energias já existentes, e formar uma grande chama que transforme toda a polis em sua totalidade, é um grande desafio para o momento político, social e humano que se vive no mundo.

Em cada quilo de arroz e feijão, na farinha do pão de cada dia, nos remédios, sapatos, copos, lápis, em cada tapioca com delicioso recheio feito pela Dani na Maré, estão contidos a história cultural da humanidade e os conhecimentos necessários para esta produção e, portanto, para a satisfação das necessidades, dadas as condições histórico-culturais predominantes. Isto é produzido coletivamente, ainda que as condições e as bases destes conhecimentos acumulados (socialmente científicos e tecnológicos) precisem ser criticadas e superadas para outro projeto de desenvolvimento societário, é preciso ter acesso a eles para a sua superação.

Assim, os modos e escalas particulares e singulares, diversos e desiguais, de apropriação desta produção material humana, nos faz produzir criativa e esteticamente formas novas, artísticas e culturais de lidar com esta realidade histórica, produzindo multiplicidades de vida, de existência, de cultura, de estética e de saberes. E isso é um dos mais importantes exemplos sobre os quais se pode afirmar que a realidade histórica e social pode ser conhecida criticamente e transformada. E para esta transformação o acesso ao conhecimento acumulado, unificado na mais intensa convivência com a diferença, é uma necessidade histórica.

Está colocado, portanto, como um dos grandes desafios, a tarefa de, na pedagogia da convivência esculpir o sujeito coletivo. A construção da sanga da periferia, da ampla potência humana transformadora, está colocada em todos os sentidos, do racional às sensibilidades. É a busca da construção e fortalecimento de uma grande unidade para o enfrentamento e superação das desigualdades em escalas cada vez mais amplas. Processo no qual os sujeitos das periferias são estratégicos em toda a cidade e em escala planetária.

*Eduardo Alves é Diretor do Observatório de Favelas

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