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Como lidar com as práticas fascistas que ameaçam a democracia?

Por Jailson de Souza e Silva

“A difícil questão para nós é: quanto pode a perversa normalidade de uma ordem socioeconômica e política antagônica, com sua irreprimível tendência de afirmação global de seu domínio, manter sua dominação sem destruir a própria humanidade? Esse é o tamanho da montanha que devemos escalar e conquistar” ( I. Meszaros )

Três notícias chamaram atenção essa semana: a informação de que apenas seis cidadãos brasileiros concentram mais riqueza que a soma da pobreza de cem milhões de pessoas; as manifestações de intolerância contra obras e apresentações de artes em vários cantos do país, especialmente no MAM de São Paulo; e a decisão do STF de aceitar, pelo placar de 6×5, o ensino religioso confessional nas escolas.

O que os fatos têm em comum: como se depreende da fala de Meszaros na epígrafe, estamos diante de uma violenta onda conservadora que busca pautar e mobilizar a conjuntura. Historicamente, o eixo dos seus grupos era as questões de gênero – especialmente a criminalização do aborto e das expressões LGBT. Então, se fortaleceram com o tema da corrupção das esquerdas e a intolerância crescente contra o campo político; a seguir, visibilizou-se mais o campo religioso, com o recrudescimento das agressões históricas contra as religiões de matrizes afro-brasileiras; e agora temos a ampliação dos ataques ao campo artístico. Como bem sabemos, as forças reacionárias não estão preocupadas com os direitos das crianças quando acusam as obras de imorais ou “pedófilas”; assim como não estão preocupadas com a garantia de liberdade religiosa ou difusão de valores baseados no amor ao próximo quando pregam o ensino religioso confessional nas escolas. Há um evidente projeto de poder nessas ações, que se coordenam mais e mais.

Temos assim que: as mesmas pessoas que se calam diante da desigualdade socioeconômica crescente (ou se locupletam com ela) e são coniventes com as violências contras as pessoas e manifestações religiosas afro-brasileiras – ou mesmo as promovem – são as que atacam o campo político, agridem a liberdade no campo artístico, pregam por uma “escola sem partidos” e propugnam a “escola com igrejas”. Nenhuma contradição nem dúvida do que buscam: o fim do direito e da convivência na diferença em nome da manutenção perene dos privilégios dos brancos, cristãos, homens e adultos.

As forças reacionárias construíram uma agenda comum e ampliam sua organicidade conforme ampliam sua difusão. A resposta do campo democrático deve ser da mesma ordem: temos de unificar um programa comum de defesa da revolução democrática e republicana. Temos de colocar foco no fim da desigualdade crescente – que exige o fim do patrimonialismo e racismo institucionais – e na defesa do direito pleno à diferença. Temos de afirmar o direito dos sujeitos diante das instituições, que devem existir para servi-los e não o contrário.

Nossa pauta tem de ser inclusiva, sem intolerâncias, sem limites para incorporar todos os que afirmam o compromisso com a democracia e com a república. Precisamos e temos de construir uma política que amplie essas bandeiras e isole, em todos os campos, as forças reacionárias. O diálogo, mais do que nunca, deve ser com a sociedade, em todas as suas expressões institucionais. Logo, para além da luta global, fundamental, não deixe de agir em seu campo de ação cotidiano, em seu campo social local. Não temos de resistir às forças fascistas, mas, indo além delas, construir nossa resposta comum para a crise de humanidade no Brasil e tantos outros países. A afirmação dessa agenda propositiva é o nosso desafio maior no contemporâneo.

( Dedicado a I. Meszaros, que lutou o bom combate)

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