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EDITORIAL

Rio de Janeiro – ¨Vista as nossas palavras”. Quatro palavras. Uma sentença. E o início de uma revolução. Foi com a frase supracitada, título de uma carta aberta endereçada para a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) 2016, que o Grupo de Estudos Intelectuais Negras UFRJ, iniciou um movimento de disputa para que o evento refletisse a diversidade da sociedade brasileira, suspendendo o véu, para que as pessoas enxerguem, desnaturalizem e se incomodem, com a baixa presença de mulheres e negros e, sobretudo, a ausência de mulheres negras na programação principal. Um ano depois, na Flip 2017, que aconteceu de 26 até 30 de julho, sob curadoria de Joselia Aguiar, o homenageado era Lima Barreto, 30% dos convidados eram negros e havia igualdade quantitativa entre homens e mulheres (23 de cada). Além dos escritores, o público da Festa parece mais próximo da realidade do país. Ainda distante do ideal, mas no caminho.

A carta aberta escrita pelas intelectuais negras, foi motivada por uma indignação externalizada por Conceição Evaristo que, convidada para uma mesa na programação paralela da Flip 2016, questionou a ausência de escritores negros na programação principal. Sua fala foi reforçada pela também escritora Ana Maria Gonçalves que, na mesma mesa, observou a falta também de um público diverso na plateia. Antes delas, em 2012, o escritor nigeriano que vive nos EUA, Teju Cole, já destacava essa ausência em entrevista para a Folha de S. Paulo. Na ocasião, Teju se disse chocado. “Estive no palco principal [da Flip 2012], [havia] uma audiência de centenas, por que era tão branca? Nessa sala, sou provavelmente a pessoa mais negra. Brasil, você está partindo meu coração”.

Provavelmente, se participasse da Flip 2017, o coração de Teju estaria um pouco mais alegre. Decerto a maioria do público ainda era branco como afirmou a musa improvável da festa. Na matéria “Na pele de Diva Guimarães” narra-se um pouca mais da história da, já conhecida, D. Diva. Uma professora de 77 anos, vinda do interior do Paraná, que, no terceiro dia de evento, foi alçada ao sucesso. Após se levantar durante a mesa “Na Pele que habito” e fazer um discurso emocionado e emocionante, Diva viralizou na internet. Foi pauta nos principais jornais do país e já não podia mais andar tranquilamente pelas ruas de pedras irregulares de Paraty.

Foi andando por essas mesmas ruas que soubemos do “Slam das Minas”. A edição marcava o encontro entre os slams do Rio de Janeiro e São Paulo. Na matéria “A Festa que Paraty não viu” o destaque é para quem estava de fora da Festa. Apesar de não constar na Programação oficial (nem principal, nem paralela) da Flip 2017, o evento reuniu dezenas de pessoas na Casa da Porta Amarela. Um espaço todo dedicado aos escritores independentes que inventam novas formas de sobreviver narrando a realidade ou criando novos mundos.

É narrando o próprio mundo que Lázaro Ramos se destaca como escritor. Seu livro “Na minha pele” em que conta partes de sua trajetória foi o mais vendido da Festa. Em “Lázaro Ramos: o mais aclamado da Flip 2017” destaca-se as suas diversas facetas e a importante contribuição que tem dado para a visibilidade dos debates sobre racismo no país.

E, como uma espiral, por fim, retorna-se aparentemente ao início: as escritoras negras. Mas trata-se de um avanço, pois, o significado já foi ampliado pelos repertórios dos textos anteriores. A matéria “Mulheres Negras em Primeira Pessoa” é sobretudo uma homenagem a essas mulheres que, das mais celebradas as ainda anônimas para o grande público, têm conquistado passo a passo (e os passos vêm de longe) o lugar de intelectual dentro de uma sociedade que vive todas as formas de violências e desigualdades que emana de uma formação social e de um Estado estruturalmente e institucionalmente machistas e racistas. De Carolina Maria de Jesus a Cristiane Sobral, elas estavam lá. “Intelectuais Negras Visíveis” tal qual o título do catálogo, lançado durante os dias de Flip, do Grupo de Estudos Intelectuais Negras UFRJ.

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