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INSTINTO DE VIDA: UM CAMINHOPARA AMPLIAR A POTÊNCIA DA JUVENTUDE

Por: Eduardo Alves* (edu@observatoriodefavelas.org.br)

A campanha Instinto de Vida inunda a América Latina para diminuir em 50% as mortes causadas por violência letal num período de 10 anos. Trata-se de não perder vidas para a violência letal. Entre as vidas que são tiradas, pela violência letal, saltam aos olhos e movimentam todos os sentidos humanos, as de jovens. Na grande maioria, negros, pobres, moradores de periferias, em toda a extensão territorial do Brasil, compõem o grupo de vidas impedidas de existir e de fazer valer a potência da juventude, principalmente essa grande parcela que se soma, com ênfase, à potência das periferias. Jovens que são sujeitos do hoje para um novo amanhã.
A juventude, em passado, presente e futuro, é potência para a construção de uma sociedade com igualdades, para superar as desigualdades que interditam a humanidade da vida, antes mesmo de sofrerem a morte biológica em forma de assassinato.

Racismo, machismo, possessismo, exploração econômica, serão lembranças de um passado inaudito nas cabeças, mãos e pés de jovens no futuro. A juventude, hoje, precisa estar viva para realizar a vocação da liberdade, da democracia e da vida em plenitude. É nesse sentido que, por meio desse artigo, afirma-se a juventude como verbo, pois trata-se de sujeitos que percorreram passados, afirmam-se hoje e se apresentam com potencial para um amanhã da dignidade e da plenitude da vida. Para isso, no entanto, a juventude precisa viver, e com dignidade, para, como sujeitos, se construir e fazer valer todos os tempos, superando a (des)qualidade de objeto que o sistema lhe impõe.

Assim, pode-se afirmar que no Brasil (e em toda América Latina) se vive uma desigualdade mórbida, para além das várias sociais, culturais e econômicas existentes. Pois o que está em risco é a manutenção do corpo em vida, para além da humanidade, tão esmagada e subtraída pelo sistema de explorações e interdições que coloca o lucro acima da vida.
Trata-se de um quadro nada natural, pois não está em questão aqui as “mortes”: tratam-se de assassinatos, com execuções feitas diretamente pelo Estado, principalmente por meio de suas polícias ou indiretamente pelos acordos com os setores privados, principalmente os que financiam, fabricam e lucram com armas, munições e presídios.

Mobilizar a empatia e fazê-la pigmentar em cada ser humano que habita esse globo é uma medida fundamental. Trata-se de alterações ideológicas, culturais e estéticas profundas, ao reconhecer que uma cidade com conflitos deve ser edificante e não destruidora como escombros de guerra. Trata-se, sim, de uma questão chave para a vida em todas as suas dimensões, pois a outra pessoa (múltiplos seres vivos na cidade) deve ocupar importância ímpar no olhar da humanidade, garantindo-lhe os direitos da dignidade até a garantia da existência do corpo. Elemento fundamental para mobilizar a juventude como sujeito, em grandes coletivos de milhões, para assegurar as necessidades materiais e espirituais. No caso da juventude negra, moradora de periferias, pobre e, principalmente, mas nada exclusivamente, a de sexo masculino, esse machado corta mais profundamente a carne.

Todo o tipo de interdição de humanidade, do impedimento dos direitos ao controle dos corpos, pelo poder arrasador do Estado, já aponta quem morrerá a cada dia. Essa juventude, com múltiplos obstáculos para acessar e se manter no ensino formal, com restrições variadas ao trabalho do sustento da vida, com impedimentos vários para o acesso à produção artística, onde o lazer é uma pequena fresta na sobrevivência, e impossibilitada ao mínimo para a dignidade de vida, com a mobilidade restringida pelo poder dominante, é potência criativa. Inventam trabalhos que potencializam as condições materiais e espirituais da vida, criam conhecimentos em cada esquina e são potência para a conquista de outra sociedade e de uma cidade de direitos. Portanto, grita-se aqui, em som amplamente audível, um convite para ações coletivas que barrem de imediato os assassinatos, genocídios e toda a interrupção violenta do corpo e da vida de jovens.

Tal prática de genocídio do Estado ou de qualquer violência letal aplicada em massa, para além de reproduzir superestruturalmente os olhares e normas que predominam no mundo atual, garantem as condições econômicas da exploração em todas as dimensões e do poder do Estado. Aqui fica um alerta: não são coisas em debate, são vidas. Trata-se de identificar, agir e superar as condições atuais que são implementadas por pessoas que predominam neste mar de autoritarismo que toma o país e ter clareza de que a juventude precisa viver e realizar a potência inventiva tatuada em suas vidas.

O mundo de hoje está, aparentemente, como jamais vivido – talvez pela velocidade e digitalização das informações – tomado pela intolerância. Justamente é essa a juventude, que predomina na população da negritude, no grupo social de pobres, de moradores de periferias, que vive com maior impacto à intolerância no Brasil, na América Latina e no mundo. A diáspora histórica, que atravessou os mares,traz vida hoje para as periferias e faz emergir uma necessidade urgente de dar um basta às mortes, às péssimas condições de vida que predominam no mundo e às interdições das várias escalas humanas.

Para além de defender a garantia de vida da juventude, deve-se defender a vida digna, como um peso de onda do mar da sociedade e como imposição às barreiras do Estado, pois são esses jovens a potência de criação de um possível futuro mundo de direitos. Jovens precisam viver, ter seus direitos assegurados, por justiça e, também, para que o presente e o futuro sejam construídos na esteira da vida, colocando-a sempre acima do lucro. Para além da interdição da construção da juventude como sujeitos históricos de transformação, o assassinato de jovens é inadmissível e necessita de um brado forte de todos os seus lados para o seu fim imediato. Instinto de Vida é uma campanha estratégica para que um forte grito em defesa da vida modifique leis em favor da vida, construa políticas públicas rumo ao fim da violência letal e movimente, em polifonias grandiosas, a solidariedade, para seguir sendo a defesa da vida na sociedade brasileira. A juventude é marcada para viver!

*Eduardo Alves – membro da direção do Observatório de Favelas

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