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MENSAGEM DO ENCONTRO NACIONAL DE COMUNICAÇÃO DAS PERIFERIAS

MENSAGEM DO ENCONTRO NACIONAL DE COMUNICAÇÃO DAS PERIFERIAS

Maré, Rio de Janeiro, 12 a 15 de outubro de 2017

Nós comunicadoras e comunicadores das periferias, aqui representados por moradoras e moradores de grotas, favelas, quebradas, aldeias, quilombos e bairros populares, nos reunimos entre os dias 12 e 15 de outubro de 2017 na Favela da Maré, no Rio de Janeiro, como resultado de uma demanda identificada no Seminário Internacional “O que é periferia, afinal, e qual seu lugar na cidade?”, onde foi assumido o essencial papel dos comunicadores periféricos no Movimento por uma Internacional das Periferias e indicados os desafios e objetivos fundamentais que nos unificam. Demos continuidade às discussões em torno da comunicação a partir da Carta da Maré, a qual recusa-se:

“a visão reducionista, estereotipada e desqualificadora dos territórios periféricos. Com efeito, a pluralidade das formas e das dinâmicas sociais, econômicas e culturais se coloca como um desafio na compreensão do que são as periferias e, por conseguinte, na definição de parâmetros abrangentes que orientem leituras mais precisas. Apesar da consciência sobre a condição heterogênea e as distintas formas-funções das periferias do mundo, podemos afirmar vários elementos que são comuns entre elas. Afirmamos que cada periferia constitui uma morada no conjunto da cidade, compondo seu tecido urbano e estando, portanto, integrada a este. Logo, periferias são elementos centrais da cidade, lhe dão identidade, sentido e humanidade”.
(CARTA DA MARÉ, MARÇO DE 2017, RIO DE JANEIRO)

Dentro disso, a centralidade das periferias, uma potência singular e central na zona urbana e rural, com sujeitas e sujeitos – mulheres, homens, LGBTs, negras e negros, indígenas, quilombolas, portadores de deficiência – da transformação humana e da conquista de uma cidade de direitos, é o que orienta a comunicação na qual cada uma/um de nós atua.

Para além das disputas, faz-se pulsar, com peso determinante, a necessidade de articulação dos personagens protagonistas da cena periférica para avançar rumo à plena condição humana.

A identidade territorial é o que nos unifica. Em destaque, o direito à vida e à comunicação com dignidade.Para além de linhas e elementos centrais da poderosa narrativa como expressão da vida, anunciada e disputada em palavras escritas, faladas, desenhadas, filmadas, que ocupa cada página dessa Mensagem, emerge a importante solidariedade de respeito, diversidades e auto-sustentação coletivas. Para isso, utilizamos diversos meios de comunicação que já fazem parte das culturas e a busca de novas alternativas a partir de troca de experiências, sempre respeitando as características de linguagem de cada território.

Cada pessoa que atua nesse movimento, presente ou não nesse Encontro, em cada espaço físico da grande periferia espalhada pelo Brasil, contará com ações de prevenção, apoio e sustentação nas várias violações que aparecem por meio das mais distintas violências.

Parcerias no fazer, no acolher, no ensinar e no aprender. Forma-se assim uma proposta de início de rede de proteção e ação para os desafios que são colocados para, no contemporâneo, construir uma grande revolução em defesa da vida e por mais direitos.

Os temas centrais que nos articulam em ações de comunicação priorizadas nesta mensagem encaminhada pelo Encontro Nacional de Comunicação das Periferias são:

– A defesa da vida: precisamos superar a política de genocídio promovida pelo Estado, justificado pelo absurdo discurso de “guerra às drogas”, com conteúdos que formam e informam, a fim de fortalecer a defesa da vida com dignidade;

– A defesa por investimentos do Estado nas periferias e por conquistas de políticas públicas: construir articulações para proposições de políticas públicas, denunciando também a centralização dos investimentos que não contemplam as demandas das classes populares dos territórios periféricos;

– O combate ao racismo estrutural, fazendo da comunicação um instrumento de informação e formação de sujeitos críticos;

– Promover formações em Educomunicação, originárias dos movimentos populares, a fim de que crianças, jovens e adultos se tornem protagonistas, construam e assumam um novo posicionamento diante de velhos conceitos, rompendo com a posição de espectador passivo, por meio da ampliação do pensamento crítico, da leitura de mundo e construção de novas narrativas, imaginários e novas memórias;

– Enfrentamento da intolerância religiosa: defender o direito à expressão e liberdade das diferentes religiões, em especial as de matriz africanas, preservando a sua cultura e rituais;

– O combate ao machismo: enfrentar o sexismo, o feminicídio, a LGBTfobia e o patriarcado;

– A defesa da juventude como sujeito de direitos, que atravessa todos os tempos históricos, com atuação marcante na contribuição do desenvolvimento da sociedade, fazendo a diferença e sendo forte ar para superação das desigualdades;

– Defesa ao respeito às identidades de gênero e orientação sexual, por políticas afirmativas para lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, repudiando toda forma de violência, com dignidade humana em busca da equidade na diversidade;- A defesa unificada pelas demarcações das terras indígenas e quilombolas são ações fundamentais e estratégicas da comunicação das periferias;

– Defesa ao direito à moradia e acesso ampliado à Justiça, e envolvimento comunitário e sustentável, promovendo assim um combate a remoções arbitrárias;

– Enfrentamento e combate à violação de direitos humanos nas mídias de grandes empresas de comunicação que perpetuam estereótipos e incitam a violência contra a população negra e periférica.

A linguagem da periferia é plural, articula a comunicação com nossos pares e com toda a cidade, visibilizando conflitos e potencialidades por todas as dimensões – moradia, alimentação, saúde, educação, cultura, mobilidade -, colocando-se como matéria-prima da contra-narrativa e trabalhando contra a desinformação arquitetada pela grande mídia no país, que manipula seus conteúdos de acordo com seus interesses particulares.

Utilizar a comunicação como ferramenta por direitos, ocupando todas as plataformas disponíveis e levando em conta as diferenças de acessibilidade, online e off-line. Inicia-se a criação de um grande banco de narrativas inspiradoras e colaborativas para criar empatia; problematizadoras, para mostrar a forma como o Estado se faz presente; reflexivas, para afirmar a potência das periferias; solidária, para a formação de um grande e forte grupo de proteção das comunicadoras e dos comunicadores em cada território.

Trata-se de um primeiro ato de uma grande jornada que marca a Internacional das Periferias, com nossas narrativas da vida e com uma grande arte contemporânea pela mudança. Começamos com organização, ação unificada, solidariedade e proteção coletiva a nossa jornada por construção de uma sociedade com liberdade, democracia e direitos, fincando no Estado, autoritário e privatizado, a marca de uma “Coisa Pública” para potencializar a sociedade em frestas de participação, representação e investimentos que fortaleçam a vida em todas as dimensões humanas. Essa é nossa Mensagem, que inicia já, nesta data histórica que marca o dia 15 de outubro de 2017.

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