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Mulheres Negras em Primeira Pessoa

Por Priscila Rodrigues (priscila@observatoriodefavelas.org.br)

Rio de Janeiro –
Em 2016, Conceição Evaristo indagou Paulo Werneck, curador da Flip daquele ano, sobre a ausência de escritoras negras na Festa. Um ano depois, Djaimilia Pereira de Almeida, Scholastique Mukasonga, Grace Passô, Ana Maria Gonçalves e a própria Conceição Evaristo participaram da programação principal da Festa Literária Internacional de Paraty. Além delas, Cristiane Sobral, Miriam Alves, Esmeralda Ribeiro, entre outras, estiveram presentes nas atividades paralelas ao evento. As escritoras negras ainda ocuparam cinco, das dez, posições entre os livros mais vendidos da Festa.

Em seu livro de estreia, Djaimilia Pereira de Almeida, fala sobre a relação de uma moça e seu cabelo. O aclamado “Esse cabelo” aborda a trajetória de um cabelo crespo que parte de Luanda, na África, para Portugal. A partir do cabelo, a obra toca em temas como racismo, machismo e identidade.

“O genocídio de Ruanda fez de mim uma escritora”, afirmou Scholastique Mukasonga no segundo dia (27) de Flip. Na mesa “Em nome da mãe”, a escritora emocionou a todos ao contar a sua história. No massacre que ocorreu em Ruanda, em 1992, Scholastique perdeu sua mãe e outros parentes. Suas obras, traduzidas para o português, “A mulher dos pés nus” e “Nossa Senhora do Nilo” fizeram sucesso na Festa.

Escrever o que vive é o que Conceição Evaristo chama de “Escrevivência”. “Tudo que produzo é profundamente marcado pela minha condição de mulher negra na sociedade brasileira. Pela vivência e existência negra”, afirma a autora de “Olhos D’Água” e “Insubmissas lágrimas de mulheres”. Na sessão de encerramento da Flip 2017, Conceição homenageou outras vozes femininas negras como Carolina Maria de Jesus, Toni Morrison, Angela Davis, Audre Lordes entre outras.

A escritora ainda falou sobre o aumento da participação de autores negros na Festa. “Agradeço a curadoria de Joselia Aguiar, mas não foi conceção. Se a gente pensa que a literatura fala sobre identidade, esse lugar é nosso por direito. A Flip não tem mais jeito”, afirmou.

Já Ana Maria Gonçalves, autora de “Um defeito de cor” – obra que completou 10 anos em 2017 – destacou, ao lado de Conceição Evaristo na sessão de encerramento, a maior participação de negros na plateia da Flip. “O público para o qual nós não somos novidade, mais do que nunca demonstra que quando se vê representado comparece. Eles estão quebrando o estereótipo racista de que o negro não lê”, afirmou.

“Formar leitores” aponta Miriam Alves como uma das características da Literatura negra brasileira. A escritora esteve na programação paralela da Festa. Ao lado de Cristiane Sobral, Esmeralda Ribeiro, Lia Vieira e Tais Espirito Santo, participou da mesa “Olhos de Azeviche”, promovida pela Editora Malê. “Olhos de Azeviche é também o título do livro lançado pela editora e que traz vinte contos escritos por dez escritoras negras brasileiras.

Intelectuais Negras Visíveis

A indignação de Conceição Evaristo na Flip 2016 foi impulsionada pela carta aberta “Vista Nossas Palavras Flip 2016” escrita pela o Grupo de Estudos Intelectuais Negras da UFRJ. Coordenado pela historiadora Giovana Xavier, o Grupo também questionava a ausência de escritoras negras na Festa. O texto ainda se referia a Flip como o “Arraiá da Branquitude”. Já em diálogo com a curadora da Flip 2017, Joselia Aguiar, as Intelectuais Negras foram convidadas a lançar o Catálogo “Intelectuais Negras Visíveis” durante a Festa.

A Casa Amado e Saramago ficou pequena para a quantidade de pessoas que queriam assistir ao lançamento. O evento aconteceu no sábado (29), penúltimo dia de Festa. Ao contrário das outras mesas, ali a maioria era de negros, sobretudo de mulheres negras. Até mesmo Conceição Evaristo e Diva Guimarães estavam na plateia.

Com 181 mulheres negras, a primeira versão do catálogo “Intelectuais Negras Visíveis” dilata o princípio de intelectualidade para além da Academia. A partir da provocação “Você pode substituir mulheres negras como objeto de estudo por mulheres negras contando a sua própria história”, o catálogo se divide em onze sessões: Academia e Pesquisa, Afroempreendedorismo, Artes, Artes Visuais, Coletivo de Mulheres Negras, Comunicação e Mídia, Direitos Humanos, Intelectuais Públicas, Literatura, Professoras da Educação Básica e Saúde.

Pioneira, a obra tem como objetivo ser referência para o mercado de trabalho. Além de um mini currículo e foto, a publicação lista a área, a atuação profissional e o contato de cada uma das participantes. Com a iniciativas, as Intelectuais esperam que o desconhecimento deixe de ser uma justificativa aceitável para a não contratação de mulheres negras. Ainda no caminho da ampla divulgação, o catálogo está disponível para download gratuito no site intelectuaisnegras.com. “É o Brasil que perde não conhecendo essas mulheres negras”, afirma Giovana Xavier.

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