Por Priscila Rodrigues (priscila@observatoriodefavelas.org.br)
Fotos: Marcella Pizzolato (marcella@observatoriodefavelas.org.br)
Rio de Janeiro – No dia 21 de setembro, logo nas primeiras horas da manhã, a equipe do Observatório de Favelas, parceiros, familiares e amigos de jovens vítimas de homicídio no Rio de Janeiro chegavam à Arena Dicró, na Penha, para o “Tecendo Memórias – Intervenções artísticas pela afirmação da vida”. Nas falas e no olhar, havia um sentimento coletivo de indignação pelas últimas notícias que chegavam. Poucas horas antes e bem próximo dali, na noite de sexta (20), mais uma criança – a quinta no ano – perdeu a vida durante operação policial. Ágatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, não resistiu ao ser atingida por arma de fogo no Complexo do Alemão. Por Justiça e Memória de Ágatha, Davison Lucas, Marcus Vinícius, Fernando, Cleyton, Jeremias, Rodrigo, Sidney, Mateus Felipe, Michele, Matheusa, Luiza, Alexsandro, Breno…e toda a criança, adolescente e jovem que teve sua trajetória interrompida pela violência, a programação da atividade seguiu.

A parte da manhã foi reservada para parceiros, familiares e amigos de adolescentes e jovens vítimas de violência letal. “Além deste evento afirmar, desde a perspectiva artística e lúdica, a potência contida em cada trajetória que foi brutalmente interrompida, ele aponta para a memória como um instrumento que mobiliza a participação cidadã e democrática provocando o debate público acerca do direito à vida e do acesso à justiça”, explicou Aline Maia, pesquisadora do Programa de Direito à Vida e Segurança Pública do Observatório de Favelas, que abriu o evento solicitando que as pessoas presentes se organizassem em uma roda para que todos pudessem se olhar e se apresentar. “A gente construiu essa caminhada juntos e ela não se encerra hoje”, concluiu a pesquisadora.

Além da roda de apresentação, na parte da manhã, foram realizadas outras atividades coletivas – exposição, roda de conversa, oficina de plantio, oficina de serigrafia, oficina de atividades corporais, festival de pipa e torneio de futebol – com o objetivo de aproximar os familiares e amigos que vinham de quatro regiões do Estado do Rio de Janeiro: Baixada Fluminense, Maré, São Gonçalo e Chapadão. Havia também quatro dinâmicas distintas em que ocorreram os homicídios: por intervenção policial, por grupos armados, por LGBTfobia e por feminicídio. Apesar das diferenças, era possível perceber uma rede de solidariedade se formando entre os familiares e amigos.
Tecendo Memórias e Afetos
A parte da tarde foi dedicada ao “Baile do Rabisca”. Atividade aberta ao público comandada por Thiago de Paula e Nayara Costa. Entre as atrações artísticas convidadas estavam o Passinho Carioca, o Slam das Minas, Mc Douglas Vieira e Rabisca Battles. Intercalando as apresentações, os familiares e amigos subiram ao palco para fazer intervenções e compartilhar um pouco da trajetória das vítimas e seus rituais de memória.

A expressiva presença de crianças, adolescentes e jovens no evento deu o tom da tarde na Arena Dicró. Um dos momentos de maior interação foi a “batalha de passinho” entre integrantes do Passinho Carioca e da “Família Bicó” – time de futebol formado por amigos de Fernando de Morais em sua homenagem – de Japeri. “Eu senti a presença do meu filho aqui quando esses jovens começaram a dançar”, afirmou Cláudia, mãe de Sidney.

Sidney foi homenageado por Mc Douglas, seu primo, que transformou a sua saudade em música. Mc Douglas também emprestou a sua voz para homenagear Rodrigo Tavares e Fernando, a pedido de suas mães Nívia Raposo e Ana Paula Ambrosio. A canção escolhida foi “Por que se foi irmão?” de Mc Roger. “Porque se foi irmão?/Quanta saudade vai deixar aqui/ Não entendi por que teve que partir/ Será que Deus tá precisando de ti/ Se não tiver devolve em forma de alegria, felicidade”, entoou.
Lançamento da Pesquisa
No próximo dia 28 de novembro, a partir das 14h, o Observatório de Favelas lançará, em sua sede na Maré, a pesquisa “Tecendo Memórias – Homicídios de Adolescentes e Jovens no Estado do Rio de Janeiro”. Realizado pelo Programa de Direito à Vida e Segurança Pública da instituição, com apoio da Open Society Foundations e parceria com Fórum Grita Baixada, Rede de Mães e Familiares de Vítimas da Violência de Estado da Baixada Fluminense e Casa de Las Estrategias, o estudo tem como foco a realização de uma pesquisa qualitativa sobre homicídios de adolescentes e jovens no Rio de Janeiro, a partir da perspectiva de familiares e amigos de vítimas priorizando trajetórias, práticas, expectativas e sonhos que os jovens possuíam antes de sofrer o homicídio.
O lançamento da pesquisa marca a conclusão desta etapa do projeto que também contou com a atividade “Tecendo Memórias – Intervenções artísticas pela afirmação da vida” descrita acima e reportagens realizadas pela Agência Narra – projeto do Observatório de Favelas – como a intitulada “Como famílias em luto preservam a memória de jovens vítimas de homicídio no Rio” publicada no Huffpost Brasil e uma reportagem em quadrinhos em fase de finalização.
Confira mais fotos da atividade
Oficina de expressão corporal Artista Pedro Carneiro criou quadros sobre trajetória dos jovens Intervenção dos familiares Slam das Minas Intervenção dos familiares Intervenção dos familiares Roda de conversa com Gabe Passarelli Exposição com fotografias de Luiza Braga Oficina de Plantio Festiva de Pipa Futebol Familiares aprendem o Passinho